quarta-feira, 6 de março de 2013

12º Ato - A DOR DA IMPUNIDADE: O que os números não revelam



Ufal em Defesa da Vida abre espaço para a sociedade falar sobre impunidade

Formulário está disponível para que familiares ou amigos de vítimas da violência em Alagoas deem seu depoimento

04 de Março de 2013
Redação Ascom
A Universidade Federal de Alagoas lança nesta segunda (4) as ações para a 12ª edição do Programa Ufal em Defesa da Vida. Desta vez, a instituição disponibiliza formulário on line para que as pessoas possam dar depoimentos sobre sentimentos vivenciados com a questão da impunidade.
A Pró-reitoria Estudantil, promotora do evento, quer descentralizar as ações do programa e está organizando o 12º Ato em três etapas, uma em cada Campus da Ufal. O primeiro movimento acontecerá no dia 9 de maio, no Campus A.C. Simões, em Maceió; a população do interior terá a oportunidade de participar das atividades nos outros campi, nos dias 14 de maio, em Arapiraca, e 15 de maio, em Delmiro Gouveia.
De acordo com a coordenadora do Programa, Ruth Vasconcelos, o objetivo é reforçar a filosofia das atividades do programa nos anos anteriores: “O 12º Ato destaca a importância da sociedade construir laços de solidariedade e compaixão para com as pessoas que, além de terem perdido amigos e familiares em função da violência, vivenciam o drama de não terem acesso à justiça, não podendo ver os crimes esclarecidos, julgados e condenados”.
O 12º Ato pretende dar visibilidade aos sentimentos que não são expostos pelos números. “Existem muitas vidas envolvidas nas dramáticas histórias dos crimes em Alagoas; quero dizer, tem muita dor, muitas lágrimas e lamentos que não são traduzidas através dos dados estatísticos que efetivamente não revelam a realidade em sua totalidade”, afirmou Ruth Vasconcelos.
Com os depoimentos e o ato, a coordenadora busca humanizar os dados e contribuir para que as mortes e os crimes não sejam esquecidos pela sociedade alagoana nem pelas autoridades do Estado. “O Programa Ufal em Defesa da Vida lança mais um momento de reflexão sobre os efeitos da impunidade na estrutura social”, declarou.
Para Ruth, a impunidade produz um efeito dramático no tecido social: a desagregação e desestruturação da sociedade. “Se a violência produz o efeito de ‘rompimento da coesão’ psíquica e social, a única forma de sua restauração é a punição dos culpados. Como afirma a psicanalista Maria Laurinda de Souza: ‘O ato de justiça conserta a ruptura da ordem social, confirma a validade da lei e, por conseguinte, a própria ordem legal.’”, continuou.
A coordenadora completa: “É muito perigoso viver sob o signo da impunidade, pois a punição é a condição para que todos reconheçam o código civil e penal como dispositivos legais que garantem a proteção e a regulação social. Sem esses dispositivos não podemos falar em democracia. Então, temos um longo caminho pela frente para que possamos dizer que vivemos, efetivamente, a democracia no Estado de Alagoas. Com o 12º Ato, desejamos contribuir para que todos os alagoanos, que sofreram em função da violência, possam buscar fazer justiça e, particularmente, que se faça justiça em torno dos milhares de assassinatos que estão absolutamente impunes em nosso Estado. Esse é um desafio inadiável”, reafirmou.
Esse ato expressa mais um gesto de solidariedade com as famílias e amigos que vivenciaram a dor da perda e também vivem a dor e o medo da impunidade.  “Esse é um tema que atinge a maioria das pessoas que foram vitimas de violência, pois a maioria não teve os crimes esclarecidos, julgados e condenados. Essa dor, a dor da impunidade, também não está traduzida nos dados estatísticos apresentados à sociedade”, destacou.
Conte sua história
Os organizadores do 12º Ato pretendem mostrar as histórias que estão impunes em Alagoas, e, para isso, abriram um espaço noblog do programa Ufal em Defesa da Vida e no portal da Ufal, com o objetivo de reunir os depoimentos das famílias e dos amigos de quem foi vítima da violência.
Quem quiser dividir com a sociedade a dor da injustiça, pode preencher um formulário com informações simples, como por exemplo, o nome da vítima, o tipo de crime, o tempo de espera por punição e relatar como é viver com esse sentimento.
“Queremos oferecer um espaço para que as pessoas possam falar dessa dor que é tão ou mais cruel do que a dor da perda, uma dor que é tão pouco valorizada pelos que poderiam agilizar esses processos de apuração dos crimes em nossa sociedade”, ressaltou Ruth Vasconcelos, reforçando o convite para todos os alagoanos que acreditam na justiça em nome de milhares de pessoas que sofreram homicídio, sequestro ou estupro em Alagoas.